quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O BLECAUTE

O presidente, que estava ocupado na hora do blecaute, em reunião para melhorar a vida da população do seu país, pediu para o ministro esclarecer e acalmar a população. A rede de televisão entrevistou o ministro, que, ante a insistência do repórter a declarar de quem era a culpa, declarou que a culpa era da usina de abastecimento afetada pelos fortes ventos. O assessor de comunicação da usina de abastecimento fumava um cigarro atrás do outro, enquanto esperava o telefonema da rede de televisão que o entrevistaria em seguida, preparava seu dicurso, preparava-se para responder a insistência do repórter em declarar de quem era a culpa, e convencia-se a cada tragada em culpar os fortes ventos que assolavam a região. O homem de uma região do outro lado do país, também com medo de que voltasse a acabar a luz, perguntava para a sua mulher se ela tinha ouvido falar na tv ou lido nos jornais sobre os fortes ventos na região da usina de abastecimento, e sua mulher não se lembrava de nada, e o homem culpou o governo, dizendo que era desculpa esfarrapada, e que se houvesse uma ventania forte a ponto de derrubar as torres de transmissão de uma usina de abastecimento teria sido noticiada junto com o blecaute no mesmo jornal da mesma rede de televisão, e que o governo estava querendo sair ileso, esondendo alguma verdade oculta, e a mulher dise que era possível, mas que também não duvidava da ventania, já que a região onde estava instalada a usina de abastecimento era constantemente abalada por temporais e ventanias, e pensou consigo que ultimamente o tempo estava ficando cada vez mais inconstante, que fazia inverno no verão e verão no inverno, e foram dormir em dúvida, com a lanterna na cabeceira da cama caso se levantassem no meio da noite para ir ao banheiro ou tomar um copo d´água ou no caso de insônia quisessem um dos dois perambular pela casa, ler um livro, olhar da janela. No palácio do governo, o presidente se deitava para descansar de um dia de trabalho intenso, dormia tranquilo pois, caso tivesse que se levantar durante a noite ou acordasse acometido por uma crise de insônia, o palácio contava com gerador próprio. Nos céus, o Vento, irritado com a infâmia em que estava envolvido, andava de um lado para o outro tentando se acalmar e não ceder à sua cólera, capaz de devastar a terra e riscar do mapa o enorme país acometido pelo blecaute, o país que, do alto, o Vento avistava pequenininho e frágil, que nada poderia contra sua fúria vingativa. E Iansã, senhora das tempestades, que havia chegado correndo do céu do país montada num raio, tentava, vejam só, justo ela, intempestiva e nervosa como é de sua personalidade, justo ela tentava conter a fúria do Vento, para que ele não fizesse besteira. Enquanto Iansã acalmava o Vento, na usina de abastecimento, os funcionários passaram a noite em claro, e o dia seguinte e a noite seguinte também, tentando restabelecer por completo o abstecimento de energia no país, e se assegurando de que nada mais cairia. No dia seguinte ao blecaute, enquanto os funcionários da usina trabalhavam, o presidente entrou no seu gabinete mal humorado e com olheiras fundas, devido à insônia que não o deixou dormir, convocando sua cúpula para uma reunião de emergência. Os homens do país se levantaram e foram trabalhar, mas a sede de notícia era tanta, que muitos foram visto na rua, a caminho do trabalho, tentando ler os seus jornais enquanto o vento batia nas folhas frágeis e dificultava a sua leitura, como se quisesse lhes roubar os jornais das mãos.

3 comentários:

  1. Até que você escreve mais ou menos...

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  2. A situação deste rebento:
    dia seguinte - manhã da noite de pânico de terça-feira, 10/11/2009 - ao terminar de ler "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá".

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  3. excelente texto Bruno, mas infelizmente ele reflete a real displicência dos poderosos e a fragilidade dos seus incautos e ingênuos (pois ignorantes seria um termo agressivo) eleitores.
    bjkas Lé

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