sexta-feira, 24 de abril de 2009

CONSULTA

Com que folhas eu preciso trabalhar
pra que seja mais que só um quebranto?
Inteligência e paciência pra operar
sem ter a pressa de um coelho em virar santo.
Pra que sirva muito além que um esconjuro
qual a erva que pode caber mais
na ciência da feitura desse encanto
pra enfumaçar os corações de paz?
Qual dos bichos eu tenho que buscar
pra levar esse pedido de acalanto?
Qual é o gosto que é melhor oferecer
pra essa fome que é urgente em aplacar?
Com que cheiro é melhor eu defumar
esse lugar onde tudo de verdade ninguém sente?
Qual gesto vai ser bom de ser constante
pra essa dança ser o rito mais frequente?
Qual canção que é preciso eu cantar tanto
pra invocar com a minha prece a quem é forte?
Procurando essa resposta onde eu a possa encontrar
e encontrando é que eu persisto no meu canto.

--- essa canção/poema é uma das mais caras para mim. Descreve um estado de busca, um estado de vivência da fé não pelos fetiches em que ela sempre é representada, mas pelo sentido que caberá a cada um, de todas as experiências que possam ser recomendadas e pedidas.
Não diz somente de uma fé específica, por mais que tenha elementos fáceis de reconhecer. Partiu da minha fé. Porém todos os caminhos espirituais (e/ou esotéricos) que pretendem oferecer uma experiência de encontro e vivência do sagrado que seja mais empírica, mais significante, contém sues fetiches, seus ritos, seu cheiro de fumaça e os gestos que compõem sua dança. Nem que seja o gesto de estar sentado, ereto, mãos pousadas nas pernas e olhos fechados, ouvindo a mensagem de um guia, com baixa luz.
É mesmo uma consulta, feita em silêncio, de olhos fechados, jogada no vento, com uma entidade não definida, talve perguntas feitas aos espíritos do tempo, por conta do tempo tudo receitar e responder.
Euê Assa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário